25 de mar. de 2014

20 livros fundamentais

Algumas pessoas me perguntam, com certa frequência, que livros eu indicaria para quem quiser ler o básico para uma formação cultural consistente.

Não há gabarito pra uma coisa dessas. Uma seleção é sempre injusta e passível de inúmeras críticas. 

(Há até quem defenda, por exemplo, a convocação do Hernane para Seleção Brasileira, vejam vocês.)

Ainda assim, aventuro-me, deixando claro que se trata de uma seleção feita por um ser humano com certa tendência crônica ao lirismo e ao pensamento socialmente progressista.

1) A Divina Comédia, de Dante Alighieri.
É o melhor livro já escrito; uma união perfeita de técnica, repertório cultural e reflexividade. 
Recomendo edições bilíngues, que associem os versos em italiano à prosa em português. Em geral, ao tentar imitar o estilo poético de Dante, as traduções se perdem desgraçadamente.

2) (El ingenioso hidalgo) Don Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes y Saavedra.
É o pai dos romances modernos e do pensamento humanístico que vale a pena perpetuar. Precisa de mais alguma coisa?

3) Hamlet, de William Shakespeare.
Psicologicamente e estruturalmente genial. Sinceramente, não sei se há algo que seja necessário saber sobre o ser humano que não esteja ali.

4) Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões.
Dez cantos, 1102 estrofes em oitavas decassílabas (em maioria heroicas), sujeitas ao esquema rímico fixo AB AB AB CC (oitava rima camoniana), contando a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama, à volta da qual se vão descrevendo outros episódios da história gloriosa do povo português. É mole?

5) Mensagem, de Fernando Pessoa.
Das coisas mais lindas que já li. Pessoa dialoga com Camões e propõe uma releitura do (nosso) sebastianismo.

6) O Som e a Fúria, de William Faulkner.
De deixar o queixo caído pela construção psicológica dos personagens, das obsessões humanas.

7) Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Joaquim Maria de Machado de Assis.
Em termos de estilo, é o que há de melhor em língua portuguesa. Em particular, sou mais fã de Memorial de Aires, último romance de Machado, tristíssimo e belíssimo: uma coisa monumentalmente bem escrita. Mas as Memórias Póstumas são mais palatáveis. É o que sempre digo: quer aprender a escrever? Leia Machado.

8) Os Sertões, de Euclides da Cunha.
Determinismos e preconceitos à parte, é um dramático relato das nossas desigualdades. Há quem diga, inclusive, que, pelos contornos épicos, é melhor que Guerra e Paz, de Leo Tolstoy, tese com a qual humildemente concordo.

9) Crime e Castigo, de Fyodor Dostoyevsky.
Livro essencial para que se compreenda que é impossível viver sem piedade. Para os justiceiros de hoje, teria que ser obrigatório.

10) Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa.
"O diabo na rua, no meio do redemunho."

11) Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres, de Clarice Lispector.
Ninguém sabe ao certo o que é amor até ler esse livro.

12) Vidas Secas, de Graciliano Ramos.
Brasil em carne viva.

13) O povo brasileiro – a formação e o sentido do Brasil, de Darcy Ribeiro.
Talvez seja o maior pensador social que o Brasil já teve.

14) Apologia, de Sócrates.
Liberdade de pensar por si mesmo.

15) Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, de Jean-Jacques Rousseau.
Para aprendermos as nossas limitações e nossos potenciais.

16) Sermões (obra completa), do Padre Antonio Viera.
Ninguém argumenta tão bem e tão liricamente quanto ele. Se Fernando Pessoa disse que Vieira é o imperador da língua portuguesa, quem sou eu pra discordar?

17) Cien Años de Soledad, de Gabriel García Márquez.
A América Latina é imensa e belíssima.

18) Veinte poemas de amor y una canción desesperada, de Pablo Neruda.
Viva o Chile! 
(Escolher um livro do Neruda é complicadíssimo.)

19) Obra completa, de Carlos Drummond de Andrade.
Porque é Drummond. Não dá pra escolher um. Desculpem-me.

20) Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Afonso Henriques de Lima Barreto.
Porque Lima Barreto merece todas as honrarias que leitores do mundo inteiro puderem prestar. Imenso.

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