18 de out. de 2013

Vinicius - meu poeta, meu amor

Tenho alguns ídolos na vida. Pessoas cuja contribuição humanística ultrapassa o utilitarismo de um invento ou a perfeição maquinal. Meus ídolos são gente de verdade, com qualidades e defeitos. 

Sou, por exemplo, fã incondicional de Vinicius de Moraes, que neste 19 de outubro completa(ria) cem anos. 

Viveu como poeta, e transformou em beleza (músicas, peças, poemas, contos, crônicas) tantas e tantas dores da vida. A mim, ele me ensinou muito. 

Ensinou-me que ser imortal é diferente de ser infinito; e ensinou-me que fidelidade não se cobra: conquista-se, cuida-se, admira-se. 

Ensinou-me que amores podem ser estranhos, desassombrados, doidos, delirantes; mas também que a vida só se dá pra quem se deu (pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu). 

Ensinou-me que o homem que diz 'vou' não vai; e que quem de dentro de si não sai vai morrer sem amar ninguém. 

Mas Vinicius me falou muito mais. Ele também ajudou a construir as minhas primeiras impressões ideológicas, sociais e políticas. Lembro-me do assombro que me tomou quando, ainda moleque, li um trecho de seu Operário em Construção, que ainda hoje trago no peito: 

"Mas o que via o operário o patrão nunca veria. O operário via as casas e dentro das estruturas via coisas, objetos, produtos, manufaturas. Via tudo o que fazia o lucro do seu patrão. E em cada coisa que via misteriosamente havia a marca de sua mão. E o operário disse: Não! - Loucura! - gritou o patrão, não vês o que te dou eu? - Mentira! - disse o operário, não podes dar-me o que é meu". 

Meu poeta maior também me fez pensar na brasilidade que carrego, me fez ter orgulho dela. Aprendi com ele que só se é livre quando se liberta, e que se há alguém oprimido, estamos todos oprimidos: 

"Mais do que a mais garrida a minha pátria tem uma quentura, um querer bem, um bem, um 'libertas quae sera tamen' que um dia traduzi num exame escrito: "Liberta que serás também". E repito!" 

Vinicius, o branco mais preto do Brasil, na linha direta de Xangô, homem sem medo de assumir sua africanidade, ainda que vivêssemos (vivêssemos?) num mundo tão intolerante em relação às crenças e não crenças. Homem que, com Baden Powell, produziu uma das obras mais lindas já concebidas pelo gênio humano: os afro-sambas. 

Homem que talvez não tivesse espaço neste mundo corpólatra das dietas e das academias, neste mundo da utilidade e do interesse, neste mundo do politicamente correto e dos julgamentos prévios, neste mundo tão mudo, mesmo com tanta coisa sendo dita todo dia. 

"São demais os perigos dessa vida/ para quem tem paixão, principalmente / quando uma lua surge de repente/ e se deixa no céu, como esquecida." 

Essa lua me pegou, poetinha. E que a vida continue perigosa sempre, como você ensinou que deve ser. 

Saravá!

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