Não, não tenho.
Seria investimento em Educação a saída? Não sei... A que temos hoje não prepara, em geral, para isso: pessoas com acesso a altíssimo grau de instrução também operam crimes graves. Exemplifico e explico.
O crime cometido por um pivete é grave, como também é grave a sonegação de impostos ou o suborno a agentes públicos, por exemplo. É que no primeiro caso, o do pivete, rouba-se algo; no segundo, deixa-se de dar algo ou ganha-se algo, indevidamente.
A percepção do crime torna-se diferente: um é contra o indivíduo, outro contra a coletividade.
Eis aí "O" problemaço: a Educação de hoje, em geral, prepara o indivíduo para suprir necessidades subjetivas, não coletivas. É um tal de "meu pirão primeiro" que não acaba mais. O furto do pivete torna-se algo hediondo, mais grave que o desvio de merenda escolar, na percepção da vítima.
Então, seria investimento em Segurança a solução? A resposta também parece ser negativa. Em todas as áreas da cidade, mesmo naquelas em que o policiamento ostensivo é mais forte, ocorrem crimes. Em qualquer lugar do mundo, aliás, existem crimes, ainda que a Polícia atue fortemente. Há uma melhora considerável nos índices de criminalidade, quando a política de segurança incorpora elementos de cidadania, fazendo com que todas as pessoas tenham acesso a serviços que o dinheiro compra para os mais ricos.
Por isso, creio que só pode haver melhora, se houver uma mudança de visão de mundo, em que o coletivo se sobreponha ao individual, em que o culto ao "Deus Mercado" e a apologia da imagem e da cultura "vip"/aristocrática/
A vida em sociedade, sem barbárie, só pode ser atingida assim: sem essa ideia perversa de que somos felizes se enriquecemos, seja como for; sem essa noção de que o simples é pouco e de que o certo é não ter tempo para nada; sem a obrigação de perambular como zumbi num ciclo vital que incorpora apenas casa-trabalho-casa; sem a ambição desmedida que acaba com a humanidade e com os recursos do planeta; sem a benevolência para os senhores e a fogueira para os vassalos, que se traduz em sensação de injustiça e de impunidade.
A maneira como abraçamos esses padrões comportamentais torna inviável a civilização. Por quê?, alguém me perguntará. Porque nosso estado é de guerra constante: contra o concorrente, contra o tempo, contra a simplicidade, contra quem pensa diferente.
E a guerra é o fracasso da humanidade. Por não acreditar na guerra, acredito na política, em amplo sentido: em negociações, em planejamentos, em objetivos, em cidadania, em divulgação cultural.
Para isso, no entanto, é preciso tempo e vontade; é preciso um renascimento da própria consciência humana. Nada mágico ou imediato, portanto.
Minha percepção sobre essas questões em nada afeta a minha visão de que o rapaz-tema-da-semana, ainda que pobre, ainda que sem oportunidades, deve ser punido, sim. Mas nos termos da lei. Não façamos mais concessões ao estado de guerra que o mundo de hoje já nos impõe.
E que isso não mascare que estamos tratando apenas as consequências, e não as causas do problema.
E que lutemos mais para viver numa sociedade em que as pessoas pensem segundo um novo modelo, como eu disse acima. Um novo modelo que nos aproxime, de nós mesmos e dos outros, tornando-nos mais reflexivos e participativos e transformando o "cidadão de bem" no "cidadão do bem comum".
Os passos são lentos, como os do velho citado no título deste texto. Mas, se contínuos, dominam o tempo e trazem a sabedoria do caminho percorrido.
Aliás, esse título é trecho de uma música do grande Paulo César Pinheiro, gravada por Dona Glória Bonfim: "O mais velho".
Sei que poucos conhecerão a referência; por isso, fica a sugestão: será que você tem tempo hoje pra ouvi-la e conhecer mais da arte e da beleza no mundo - humano - que nos cerca? ;-))
http://www.radio.uol.com.br/#/letras-e-musicas/gloria-bomfim/o-mais-velho/2502405
Beijos e abraços