7 de mar. de 2010

Inania Verba**

E ela chegou no seu vestido demasiadamente preto. Foi dela a nobreza de um primeiro gesto. Tocando meu braço, perguntou-me como andava a vida.

E eu queria saber dizer. Eu poderia, na verdade. Mas é que o mundo gira muito mais rápido agora, entende? E o que eu falo nesse agora, já não é mais o que eu falaria há um minuto. As estações não se sucedem; dentro da gente, elas se imbricam. Existe tanto a ser dito. Eu não gostaria de, simplesmente... Entende? Não é tão fácil assim amassar e amansar tudo isso num só peito sem sangrar, sem gritar, sem fugir. E eu não queria nem gritar, nem fugir. O mal que é bem, e não se sabe. Não é fácil, entende? E se a palavra mal cuidada escapa, e se o vento fecha olhos e ouvidos, e se ele leva tudo pra outra ponta da margem do sentido? É muito perigoso pensar em dizer. É preciso silêncio. Eu preciso de silêncio pra pensar, pra dizer. Mas, com você, há crianças e velhos rabugentos discutindo em cada canto da minha criação e, quem sabe... Entende? É como olhar a árvore (reta, força, cor e céu) e pensar na raiz: o real está além do que se vê. Eu precisava me perder pra não te perder, e nos perdia.

- Bem, bem... E a sua?
(por Filipe Couto)
*postado originalmente em www.asoutraspalavras.blogspot.com no dia 15 de dezembro de 2009.
*"Inania verba", em latim, significa "palavras inúteis" e é título, também, de um famoso poema do mestre Olavo Bilac.

2 comentários:

Filipe disse...

Lina disse...

Definitivamente, meu preferido de todos... Valeu a espera!

beijinhos

15 de dezembro de 2009 15:48


Blogger Diego Moreira disse...

Sobre o novo blog: tenho certeza que vou gostar.

Sobre o conto: entendo.

Abraços, querido!

15 de dezembro de 2009 20:52


Blogger Renata de Aragão Lopes disse...

Deliciosas "palavras inúteis".
(risos)

Tenho certeza
de que será
um sucesso!

Não é que já está
na Travessa? : )

Beijo, Filipe!

16 de dezembro de 2009 14:44


Anônimo sylvia disse...

adorei o conto !
beijos Filipe

17 de dezembro de 2009 12:35


Blogger Renata Portugal disse...

Adorei! =)
O conto, o novo blog e o livro já nas Livrarias!!!! =P

Beijos, meu querido

19 de dezembro de 2009 00:23


Blogger Luisa disse...

Entendo.

21 de dezembro de 2009 18:47


Anônimo Vivi disse...

"Eu precisava me perder pra não te perder, e nos perdia." é uma das coisas mais lindas que eu já li...

Perfeito!

23 de dezembro de 2009 01:43



Blogger Eu,Pamela Gama. disse...

É como olhar a árvore (reta, força, cor e céu) e pensar na raiz: o real está além do que se vê"
simplesmente MARAVILHOSO!

26 de dezembro de 2009 09:06



Anônimo Teresa Cristina disse...

Mais uma a dizer: entendo.

Conto maravilhoso. Parece todo ele inspirar uma tensão dramática levada ao limite. O problema é que a linguagem é leve, poética, reflexiva, abstrata.

Isso tudo torna o seu texto único!

Estou encantada!

Parabéns!

27 de dezembro de 2009 22:51



Blogger Marcello disse...

Filipe.

Já te li, ja assisti você no youtube, já mandei e-mail pra sua editora pra vender seus livros, outro blog ?? e eu que tenho fôlego poético né ????

Essas palavras inúteis que são tão preciosas na razão do nosso ser.

Não vivo sem poesia, minha ou dos outros, impossível viver sem !!!

Te desejo um 2010 abençoado com muita saúde, muita poesia, muitos projetos e acima disso tudo, muita paz de espírito, sem ela não fazemos nada.

Obrigado por ler meu blog.

29 de dezembro de 2009 00:25



Blogger Livia Fada disse...

É surpreendente como você é bom em tudo!

"Eu precisava me perder pra não te perder, e nos perdia." - Lindo demais!

Muito sucesso, Filipe! Você merece!

Um grande beijo!

29 de dezembro de 2009 12:23



Blogger Juju disse...

Sempre surpreendendo... Adorei o conto! Só não pode abandonar a poesia.
E esqueci de dar os parabens pelo sem censura! Sucesso mais que merecido.

Mas mudando de assunto... por anda o senhor?

bjuxx

11 de janeiro de 2010 09:16



Blogger Mariana Botelho disse...

Filipe,

nunca é tarde pra desejar sucesso. Só vi agora do lançamento de teu livro.

abraço

mariana

Alan disse...

Vamos escrever?